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As descobertas de novos mundos foram cercadas por figuras mitológicas, criaturas monstruosas que devoravam navegadores, tripulações e embarcações. Estas criaturas atormentaram e perturbaram diversas civilizações que, assim explicavam naufrágios, marinheiros engolidos pelo mar e o desaparecimento de expedições inteiras na exploração de novas terras, no comércio de especiarias e de outros produtos. O tempo e o imaginário fantasioso construído para explicar mortes passaram, porém as ameaças não passaram, ainda hoje, rondam de forma devastadora.
O mundo se depara atualmente com uma pandemia brutal. Os mortos somam mais de 1 milhão. São milhares diariamente. O enfrentamento deste momento, pelo Brasil assemelha-se a um navio à deriva sendo devorado por um monstro de múltiplas cabeças. Enfrentamento não ocorre ao sabor do vento. Enfrentamento requer planejamento, estratégias e ações coordenadas, sob pena de abater uma cabeça da besta e ressurgirem outras tantas com força redobrada.
Os monstros marítimos eram imensos, ao contrário do que nos assombra. A invisibilidade e o tamanho diminuto contrastam com a ferocidade com que ataca suas vítimas. A batalha é desigual. As armas para lutar contra ameaça tão destruidora são desconhecidas.
Os avanços para abatê-la vão a passos lentos, enquanto o rastro de destruição se potencializa exponencialmente, escancarando chagas profundas de uma sociedade desigual. A mais simples das medidas de enfrentamento, lavar as mãos, revela que quase 20 milhões de brasileiros não têm acesso à água encanada. Estes brasileiros são os mesmos que ainda convivem em casas precárias e muito pequenas na periferia das cidades. A fome e a insuficiência de políticas sociais precariza ainda mais o controle. É neste cenário que a nau do país navega, descontrolada.
O comandante da nítidos sinais de pacto com o monstro. Direciona a tripulação às suas garras, como se desejasse vê-la aprisionada e devorada. Os menos hábeis, incapazes de driblar a ardilosa criatura serão as presas fáceis. O mais devastador é que o comandante conseguiu dividir a tripulação. Uma parte cega, encantada feito zumbi, joga-se para saciar a fome de morte do monstro. Afronta as evidências de riscos. Faz pouco caso do poder de destruição e da letalidade. Cegos, oferecem o coração rumando mascarados para o vórtex do furacão.
O resultado está posto e é a mensurado pelo peso dos números. São mais de 100 mil brasileiros doentes, mais de 10 mil mortos. Números inimagináveis! Uma tragédia anunciada. Há líderes que conduzem para o bem-estar e à felicidade. Há outros, e a história é farta, têm a missão de semear a destruição, a dor, o sofrimento, a desigualdade, o adoecimento.
Que triste escolha! Diariamente, agravam-se as evidências de que a nau, não apenas a da pandemia, está à deriva e ruma desgovernada em direção ao rochedo, ao naufrágio.